Linguagem e letramento
Sabemos, de acordo com o RCNEI que o desenvolvimento da linguagem constitui
um dos eixos básicos do trabalho da Educação Infantil. Nessa fase é primordial
elaborar o trabalho com muitas músicas, com vários portadores de texto,
parlendas, trava línguas, histórias, conto, fábulas.
Em algumas situações encontramos, o ensino das letras iniciado pelas
vogais e as sílabas respeitando a ordem alfabética, elaboração de exercícios de
coordenação motora, atividades de cópia para que as crianças repitam o nome
próprio e mesmo as letras e as sílabas isoladamente. Quanto à leitura, é feita
a partir das letras e sílabas ensinadas e há pouca leitura para as crianças.
Hoje sabe-se da importância de mostrar
todas as letras e números para as crianças tanto quanto eles desejam conhecer.
É importante considerar o ensino da leitura e da escrita em situações
reais de uso e, sendo assim, na elaboração de atividades de leitura escrita,
ter como foco importância de reflexão sobre a língua. Incorporar ao seu fazer
pedagógico, atividades de produção coletiva de textos, sendo elas, o professor
como escriba, a correção com a participação das crianças, atividades de
preenchimento de cruzadinhas e de análise do nome próprio. Ler vários tipos de
textos, além de solicitar a leitura de textos que as crianças sabem de memória.
O RCNEI cita algumas atividades que se pode fazer na Educação Infantil
sem que precise recorrer às práticas tradicionais, como: andar sobre linhas,
fazer o contorno das letras na caixa de areia ou lixa.
É necessário que as crianças tenham espaço para falar, contar coisas
sobre seu dia, sua casa ou ter espaço para falarem sobre o que querem. De
acordo com RCNEI, o processo de letramento está associado à construção do
discurso oral como do discurso escrito. É importante oferecer um trabalho para
as crianças com diferentes portadores de texto, como livros, jornais,
embalagens, cartazes, placas de ônibus.
Tempos e espaços
Quando se observa o trabalho na Educação Infantil
encontra-se uma grande mistura, professores divididos entre práticas
tradicionais e novas práticas. Alguns tentando direcionar seu trabalho para uma
educação que de mais liberdade para o aluno criar, outras nem tanto.
Uma observação que faço é referente aos materiais, que
ficam guardados longe do alcance das crianças, elas não podem manusear e
escolher os materiais que gostariam de usar em suas produções artísticas.
Os materiais são a base da
produção artística. É importante garantir às crianças acesso a uma grande
diversidade de instrumentos, meios e suportes. Alguns deles são de uso
corrente, como lápis preto, lápis de cor, pincéis, lápis de cera, carvão, giz,
brochas, rolos de pintar, espátulas, papéis de diferentes tamanhos, cores e
texturas, caixas, papelão, tintas, argila, massas diversas, barbantes, cola,
tecidos, linhas, lãs, fita crepe, tesouras etc. Outros materiais podem
diversificar os procedimentos em Artes Visuais , como canudos, esferas,
conta-gotas, colheres, cotonetes, carretilhas, fôrmas diversas, papel-carbono,
estêncil, carimbos, escovas, pentes, palitos, sucatas, elementos da natureza
etc. (Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, vol.3 p 112)
No entanto tudo fica
acondicionado dentro do armário, onde só a professora tem acesso, de acordo com
o RCNEI, diz que as crianças devem ter autonomia para o acesso ao uso dos
materiais. O RCNEI cita que “a organização da sala, a quantidade e a qualidade
dos materiais presentes e sua disposição no espaço são determinantes para o
fazer artístico”. (p 110)
Tenho notado que na
Educação Infantil o trabalho nem sempre está focado para a criança, sua liberdade
e seu desejo, mas sim para manter a ordem e a disciplina. Da criança é exigido
um bom comportamento, uma atmosfera de controle é instalada nas salas.
É muito comum que, visando
garantir uma atmosfera de ordem e de harmonia, algumas práticas educativas procurem
simplesmente suprimir o movimento impondo às crianças de diferentes idades
rígidas restrições posturais (...) em que a criança deve ficar quieta, sem se mover; ou na realização
de atividades mais sistematizadas, como de desenho, escrita e leitura, em que
qualquer deslocamento, gesto ou mudança de posição pode ser visto como desordem
ou indisciplina. (...). (RCNEI vol. 3,
p. 17)
A prática disciplinar na
Educação Infantil é muito constante, percebemos no espaço escolar a todo o
momento as crianças sendo silenciadas, acomodadas em seus lugares, em fila para
todos os ambientes em que se dirigem.
Durante algumas
observações realizadas para a realização do estágio percebi que em algumas
turmas as crianças não podem brincar tendo que inclusive guardar os brinquedos
que tenham trazidos de casa. Em outras turmas, em menor quantidade, as crianças
têm mais liberdade para brincar durante vários momentos da aula.
Esse momento ainda não é tratado como
principal ou importante, sabemos que essa é uma prática comum nas escolas para
crianças pequenas, por ironia falamos com freqüência na importância do brincar.
É no brinquedo que a
criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de uma esfera visual
externa, dependendo das motivações e tendências internas, e não dos incentivos
fornecidos pelos objetos. (VYGOTSKY, 1991, p. 109-110)
É encantador ver como as
crianças administram suas brincadeiras, a maneira como brincam como se ninguém
estivesse observando, como se expressam através de seus brinquedos e brincadeiras.
O brinquedo possui esta importância no processo de aprendizado e
desenvolvimento, pois, segundo Vygotsky (1991, p. 117), eles criam “uma zona de
desenvolvimento proximal na criança. No brinquedo a criança sempre se comporta
além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário,
no brinquedo é como se ela fosse maior do que é na realidade”.
Através do brinquedo a
criança comunica-se com o mundo exterior, fala de seus medos, seus anseios,
conta seus segredos, falando inclusive de coisas do mundo dos adultos daí a
importância de incentivar e propiciar às crianças esses momentos.
O brincar, numa perspectiva
sociocultural, define-se por uma maneira que as crianças têm para interpretar e
assimilar o mundo, os objetos, a cultura, as relações e os afetos das pessoas.
Por causa disso, transformou-se no espaço característico da infância para
experimentar o mundo do adulto, sem adentrá-lo como partícipe responsável.
(WAJSKOP, 1994)
Entendo a Educação
Infantil primeiramente como espaço do brincar, acredito que essa prática deve
fazer parte da rotina diária das crianças, como também trabalhar de maneira que
se desenvolva a expressão oral.
Há um tanto de
encantamento na Educação Infantil, pois é possível auxiliar na aprendizagem das
crianças de forma lúdica, mas também encontramos muitos obstáculos. Vimos com
freqüência crianças expostas a uma enorme vulnerabilidade social, e a Educação
Infantil precisa estar pronta para atender essas crianças quem vem de suas
famílias engolidas pela sociedade.
A educação para crianças
pequenas está dividida em duas grandes dimensões: o educar e o cuidar. O
profissional que vai atuar nessa fase deve estar consciente do papel ampliado
que a educação toma nesse sentido, ora de educador, ora de cuidador. De acordo
com o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil
Contemplar o cuidado na
esfera da instituição da educação infantil significa compreendê-lo como parte
integrante da educação, embora possa exigir conhecimentos, habilidades e
instrumentos que extrapolam a dimensão pedagógica. Ou seja, cuidar de uma
criança em um contexto educativo demanda a integração de vários campos de conhecimentos
e a cooperação de profissionais de diferentes áreas. (RCNEI, 1998, vol. I, p
24)
Ainda citando o
referencial “cuidado é um ato em relação ao outro”, e para crianças pequenas,
seu desenvolvimento parte da articulação entre esses dois saberes, o de educar
e o de cuidar.
Na Educação Infantil, uma
característica muito forte é o excesso de rotinas. Há um tempo certo para tudo,
para comer, sentir sono, até mesmo para usar o banheiro. Muitas vezes uma
atividade precisa ser interrompida porque é a hora do lanche, mesmo se estiver
no meio de uma contação de história
O excesso de rotinização
impede a exploração, a descoberta, à formulação de hipóteses sobre o que está
para acontecer. Em outras palavras: trata-se de combinar rotina e variação, de
oferecer para a criança um andaime, uma estrutura feita de tempo, espaço,
fórmulas verbais que lhe permitam a exploração, a inferência, à decifração do
que acontece, os experimentos mentais sobre quando sucede. (BARBOSA, 2006, p
45)
Essa é uma característica
que precisa ser modificada aos poucos, pois essas rotinas são pensadas para o
funcionamento da escola, para os funcionários, para a escola, quando na verdade
deveriam ser pensadas para melhor atender as crianças.
Contribuições dos Referencias Curriculares Nacionais da Educação
Infantil
O RCNEI representa uma
grande contribuição para Educação Infantil, pois ele dá subsídios para as professoras
nortear sua prática em sala. Através de uma linguagem muito clara, esse
documento apresenta metas de qualidade a serem atingidas pela Educação Infantil
e também traz algumas sugestões para professores.
Ao consultar o Referencial
o professor vai encontrar maneiras para desenvolver o processo de construção da
Identidade e Autonomia das crianças e uma orientação para trabalhar com as
diferentes linguagens das crianças: Movimento, Música, Artes Visuais, Linguagem
Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemática.
Contribuições teóricas
Foi muito importante ter
conhecido um pouco dos teóricos, pois cada um ao seu modo e no seu tempo
contribuiu para a educação de modo geral. Pensar em Comenius (1592 – 1670), que
apresentou idéias muito a frente do seu tempo; pensou a escola para todos,
questionou metodologias, dizia que a criança tinha que brincar, pensou uma
escola específica para crianças que são pensamentos atuais se considerarmos que
esse modelo que buscamos.
Rousseau (1712 – 1778),
que foi um filósofo que trouxe grandes contribuições ao pensar a criança na sua
especificidade e não um adulto em miniatura com ideias próprias e prontas a
exercer sua liberdade. Depois com Froebel (1782 – 1852), fundador do Jardim da
Infância, foi um dos primeiros a criar brinquedos para as crianças; trouxe a
ideia da rodinha, jogos, trabalhos manuais.
Montessori (1870 – 1952)
contribui muito com a educação de crianças pequenas quando pensou nas coisas ao
alcance das crianças, armários abertos, cadeiras e mesas no tamanho das
crianças, bem coloridos e com o material dourado, elaborado inicialmente para
crianças com necessidades especiais. Freinet (1896 – 1966) foi um teórico de
grande importância, trouxe grandes contribuições ao se colocar em situação de
igualdade perante o aluno, ao trazer a ideia do cantinho, das aulas passeios,
senso cooperativo e de responsabilidade, sociabilidade, autonomia, expressão,
criatividade, reflexão individual e coletiva, afetividade e pensou no número de
alunos por turma.
Piaget (1896 – 1980), por
mais influências contemporâneas que um educador possa ter não há como negar o
valor de suas idéias para a educação em geral. De acordo com suas teorias o
professor não deve apenas ensinar, mas sim antes de tudo orientar o aluno a
construir seu conhecimento (construtivismo), pensou no erro como forma de
construir aprendizagens, pesquisou as fases do desenvolvimento humano, o que
proporciona aos professores elaborar suas práticas pedagógicas de acordo com a
fase da criança.
Vygotsky (1896 – 1934)
Para esse teórico o ensino deve se antecipar ao que o aluno não sabe e nem é
capaz de aprender sozinho, sua teoria tem por base o desenvolvimento do
indivíduo como resultado de um processo sócio-hisórico e o papel da linguagem e
da aprendizagem neste desenvolvimento.
Piaget e Vygotsky
contribuem no trabalho do professor ao proporcionar a partir de suas teorias,
todo um conhecimento do sujeito e como ele aprende com base nesse estudo o
professor pode planejar e também compreender o processo de aprendizagem.
Wallon (1879 – 1962)
pensou movimento e corporeidade, afetividade, postulou que o aluno só aprende
quando se deposita confiança no professor. Bruner (1915 - com a ideia da
narrativa.
Foucault (1926 – 1984)
saber filosófico, faz uma analise do discurso e a relação entre poder e
governamentalidade. Na educação esse teórico nos ajuda a pensar sobre a
configuração de nossas escolas e processo que essa instituição faz ao
disciplinar as crianças. Gardner que traz a ideia de se trabalhar com as
inteligências múltiplas.
Malaguzzi, as idéias desse
teórico, pedagogo são de grande importância para a educação em particular para
as crianças pequenas. Pensa a educação a partir das linguagens e das crianças e
diz que elas possuem muitas mais de cem. Diz que a escola não deve ser
submetida ao currículo e as disciplinas. Aqui se pensa o ensino com base na
liberdade de escolha, onde o aluno age sobre seu conhecimento, as crianças são
felizes em suas construções e a forma como os professores investigam o que
ensinar é através da Pedagogia da Escuta, ou seja, os projetos são realizados
de acordo com a vontade das crianças. É a alegria em aprender e ensinar.
Para finalizar
Eu descobri como é bom o
trabalho na Educação Infantil e por ironia não foi trabalhando lá que descobri
isso e sim numa disciplina da faculdade. Percebi que as práticas desenvolvidas
em sala de aula estão longe de ser aquilo que seria o ideal a ser trabalhado
com crianças pequenas.
Entendo o trabalho na
Educação Infantil como uma prática que dá liberdade aos alunos; liberdade para
pensar, para criar, para se expressar, para escolher. Esse é um trabalho muito
rico de sentidos e significados, há muito que se fazer com os pequenos sem que
se precise ficar os mandando pintar folhinhas e etc.
O professor pesquisador
vai encontrar muitas coisas para fazer com eles, atividades com passeios,
pintura, modelagem, músicas, brincadeiras, brinquedos, histórias, poesias,
cantigas de roda, jogos entre outros, o que na verdade é muito mais fácil de
trabalhar do que ficar tentando manter silêncio e preencher folhas, o tempo até
passa que nem se sente e sentimos como as crianças ficam felizes.
Essa disciplina foi muito
importante para minha formação, aqui aprendi que basta procurar, pesquisar que
é possível sim desenvolver um trabalho de qualidade, que um aprofundamento
teórico contribui e muito para o trabalho desenvolvido em sala de aula. Foi
muito importante descobrir as contribuições de cada teórico, pois além de
conhecimento isso trouxe algumas sugestões.
O trabalho do professor em
qualquer etapa não pode ser desenvolvido de qualquer maneira, é um trabalho que
exige qualidade e isso é o próprio professor quem atribui.
REFERÊNCIAS:
BARBOSA, Maria Carmem Silveira. Rotinas na Educação
Infantil: Por amor e por força. Artmed, 2006.
HORN, Maria da Graça Souza, Sabores, cores, sons e
aromas: A organização do espaço na Educação Infantil, Porto Alegre, Artmed,
2004.
Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil, Brasília, MEF/SEF,1988,
Volumes1,2,3
WAJSKOP, Gisela, O brincar na Educação Infantil, 1994
disponível em http://www.fcc.org.br
acessado em 23 de junho de 2011.
VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente.
São Paulo: Martins Fontes, 1991.
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