terça-feira, 29 de julho de 2014

Inclusão - Alfabetização de alunos surdos

RELATÓRIO DE OBSERVAÇÃO

Esse relatório refere-se à observação realizada numa turma de 1º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Pedro I. Nessa turma está matriculada uma aluna surda, por esse motivo a observação aconteceu nesse local.

Caracterização da escola

Histórico
A Escola Municipal de 1º Grau Incompleto Dom Pedro I foi criada no dia 20 de dezembro de 1974, funcionava na Rua Mario Totta s/nº no Bairro Agual, sendo que não há registros de quem era a diretora na época.
No ano de 1980 a escola foi construída em novo endereço, situando-se na Avenida João de Magalhães, nº 2084, no Bairro Agual.
Em 4 de agosto de 1999 a escola passou por alteração de denominação, passando a chamar-se Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Pedro I.

O espaço físico
A escola possui 12 salas, 1 sala adaptada para sala de aula, 1 sala adaptada para informática, 1 sala de apoio, 1 biblioteca, 1 secretaria, 1 refeitório, 1 cozinha, 1 despensa, 1 sala para direção e vice direção, 1 sala para supervisão e orientação, 1 sala para professores, 2 banheiros para meninas, 2 banheiros para meninos, 1 banheiro para pessoas com deficiência física, 1 ginásio de esportes, todos construídos em alvenaria.
O pátio é grande sendo possível que os alunos brinquem livremente durante o recreio, tem sombra e uma calçada onde os alunos desenham amarelinha para brincar e pulam corda, na outra parte o chão é coberto por pedra brita. 

Caracterização da turma
A turma 13 é composta de 19 alunos, sendo que 10 são meninos e 9 são meninas, dessas, uma aluna é surda. Essa aluna já esta inserida na rede municipal desde a educação infantil, onde recebia atendimento na Sala de Recursos Multifuncionais. Nesse espaço a aluna era atendida por profissionais especializados, onde a preocupação maior desses profissionais era coloca-la em contato com a Libras, assim sendo os demais profissionais mobilizaram-se para, juntamente com a aluna aprender a língua de sinais.
A aluna possui implante coclear, mas não faz uso desse recurso por não ter se adaptado e nesse momento está aprendendo a língua de sinais com a professora da turma e com uma instrutora surda que o município contratou para auxiliar.   

Observação da aula

A Observação ficou um pouco prejudicada porque nesse dia chovia muito e faltaram muitos alunos, mas a aluna surda estava e foi possível observá-la realizando suas atividades. Inicialmente ela estava fazendo umas atividades que não tinha terminado enquanto a professora colava os temas dos alunos, num caderno que fica na escola.
Observei seus trabalhos, que ela mesma me mostrava, a professora mencionou que sua pintura havia melhorado muito já que no inicio ela pintava bem rápido e de qualquer jeito. Foi possível observar que o trabalho realizado pela professora é pensado sempre pela via da inclusão dessa aluna, já que todo o trabalho ofertado aos demais alunos é também oferecido a ela de forma adaptada para a língua de sinais. Isso fica claro nos trabalhos expostos na sala, os numerais, alfabeto, escrita dos objetos e os cartazes que a professora utiliza em aula, todos, sem exceção, são produzidos em Libras também.
Nesse dia a professora iria contar a história “Ioiô”, primeiramente ela mostra todos os personagens e apresenta o sinal, após a contação, os alunos fariam o livro da história no formato de um ioiô, onde era possível colar uma cordinha e colorir os desenhos da história. A aluna demonstrava interesse para fazer a atividade, mas a professora guardou para o dia seguinte porque tinha poucos alunos naquele dia.
No momento seguinte a aluna foi assistir a um filme que a outra professora estava passando para outras turmas, devido ao numero pequeno de alunos naquele dia, mas ela retorna para a sala em seguida, perdendo o interesse pelo filme, volta para terminar suas atividades. A instrutora faz umas atividades com ela em que ela deve ligar a letra correspondente ao sinal (alfabeto datilológico), após pede para ela ir colocando as letras do alfabeto de acordo com o sinal e solicita que ela mostre do que se trata por meio do sinal. Assim a menina avança no aprendizado de Libras o que traz grandes contribuições para sua aprendizagem na escrita, nesse sentido Pereira salienta que
uma vez adquirida a língua de sinais, esta terá um papel fundamental na constituição do português que será adquirido como segunda língua, preferencialmente na modalidade e escrita pelo fato de esta não depender da audição. (PEREIRA. Apud LODI et al, 2002, p. 49)
Sabemos que esse ato constitui-se num momento muito importante pela contribuição que traz ao aluno surdo para o acesso a língua escrita, ou seja, a Língua Portuguesa que será depois concebida como segunda língua. Assim o aluno adquire o conhecimento da Libras instrumentaliza-se para a aquisição do sistema escrito. Dessa forma Possentini afirma que
enfatizamos que a língua de sinais deva ser considerada e desenvolvida como primeira língua dos surdos e que práticas educacionais para o ensino de segunda língua, ou língua estrangeira, sejam conhecidas, estudadas e aplicadas pelos educadores para o ensino do português escrito [...] o acesso a escrita só será pleno quando ela for tratada e concebida como prática social de linguagem, cultural, social, histórica e ideologicamente determinada. (POSSENTINI, apud LODI et al, 2002, p. 44 )
Vale aqui salientar que tanto o trabalho da professora da turma quanto o trabalho da instrutora têm como preocupação inicial o aprendizado de Libras sem deixar que a aluna esteja em contato com materiais escritos e jogos onde pode ter acesso ao alfabeto. Outra preocupação constante, que foi observada pelos trabalhos que a professora mostrou, é com o letramento.
Foi possível observar durante os jogos que a menina utilizou, jogos de sucatas, confeccionados com tampinhas de garrafas em que era possível jogar de diversas maneiras, como o jogo da memória e de construção de palavras. As historias que a professora usou anteriormente e as que ainda iria usar, todas adaptadas para aluna surda demonstra a preocupação dessa professora com práticas de letramento num contexto apropriado sabendo a importância dessa prática nas turmas de alfabetização. Assim, recorro às palavras de Pereira ao dizer que
como todas as crianças, também as surdas necessitam de conhecimento de mundo de modo que possam recontextualizar o escrito e dai derivar sentido. Esta é, a meu ver, a maior contribuição da língua de sinais, para a escrita pelos surdos. É através dela que os alunos surdos poderão atribuir sentido ao que leem, deixando de ser meros decodificadores da escrita, e é através da comparação da língua de sinais com o português que irão constituindo o seu conhecimento de português. (PEREIRA. Apud LODI et al, 2002, p. 49)
Ao final da aula a professora fez uma atividade com a aluna surda da seguinte forma: pedia que ela fizesse o sinal das palavras que ela tinha escrito no inicio da aula, que ela substituía o sinal pela letra e pedia que ela fizesse o sinal. Observei que tinha nomes de pessoas sugeri que ela fizesse essa atividade com o nome dos colegas para que a aluna identificasse, a professora gostou, falou que iria fazer com o auxilio dos crachás que eles têm isso porque ela tinha comentado que não consegui identificar o nível da leitura/identificação que a menina está. 
Senti falta de atividades em que a professora usasse a palavra e a escrita, tinha alguma coisa no canto do quadro, mas os jogos que ela mesma produz poderia explorar mais essa técnica, mas há que se parabenizar o trabalho e a atitude acolhedora dessa professora no sentido de incluir essa aluna em todas as atividades propostas para aquela turma.

Conclusão

Os debates incluindo a temática da inclusão precisam ser repensados por outra ótica, a questão não deve estar apenas em ter capacitação para trabalhar com alunos surdos, ou outra necessidade especial, podendo-se centrar na perspectiva daquilo que é possível aprender, e sempre é possível aprender mais, aprender coisas novas.
Quanto aprendizado há nessa turma, quanta contribuição essa aluna leva para aquelas pessoas que estão envolvidas na sua aprendizagem. Mas a postura dessa professora faz toda a diferença, porque aceitou e acolheu essa aluna e se lançou na busca da aprendizagem, de entender como essa aluna aprende e de aprender Libras que é essencial.
Claro que seria bem melhor se a prefeitura disponibilizasse profissional qualificado para trabalhar nessa turma como orienta a legislação, mas isso, nesse caso não foi impedimento para que essa aluna encontrasse a oportunidade de aprender.
Referências

LODI, Ana Cláudia B; HARRISON, Kathryn M. P; CAMPOS, Sandra R. L. de; TESKE Ottmar. Letramento e minorias. Porto Alegre: Mediação, 2002.

Nenhum comentário:

Postar um comentário