RELATÓRIO DE OBSERVAÇÃO
Esse relatório refere-se à observação realizada numa turma
de 1º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Pedro I. Nessa turma
está matriculada uma aluna surda, por esse motivo a observação aconteceu nesse
local.
Caracterização
da escola
Histórico
A Escola Municipal de 1º Grau Incompleto Dom Pedro I foi criada
no dia 20 de dezembro de 1974, funcionava na Rua Mario Totta s/nº no Bairro
Agual, sendo que não há registros de quem era a diretora na época.
No ano de 1980 a escola foi construída em novo endereço,
situando-se na Avenida João de Magalhães, nº 2084, no Bairro Agual.
Em 4 de agosto de 1999 a escola passou por alteração de
denominação, passando a chamar-se Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom
Pedro I.
O espaço físico
A escola possui 12 salas, 1 sala adaptada para sala de aula,
1 sala adaptada para informática, 1 sala de apoio, 1 biblioteca, 1 secretaria,
1 refeitório, 1 cozinha, 1 despensa, 1 sala para direção e vice direção, 1 sala
para supervisão e orientação, 1 sala para professores, 2 banheiros para
meninas, 2 banheiros para meninos, 1 banheiro para pessoas com deficiência
física, 1 ginásio de esportes, todos construídos em alvenaria.
O pátio é grande sendo possível que os alunos brinquem
livremente durante o recreio, tem sombra e uma calçada onde os alunos desenham
amarelinha para brincar e pulam corda, na outra parte o chão é coberto por
pedra brita.
Caracterização da turma
A turma 13 é composta de 19 alunos, sendo que 10 são meninos
e 9 são meninas, dessas, uma aluna é surda. Essa aluna já esta inserida na rede
municipal desde a educação infantil, onde recebia atendimento na Sala de
Recursos Multifuncionais. Nesse espaço a aluna era atendida por profissionais
especializados, onde a preocupação maior desses profissionais era coloca-la em
contato com a Libras, assim sendo os demais profissionais mobilizaram-se para,
juntamente com a aluna aprender a língua de sinais.
A aluna possui implante coclear, mas não faz uso desse
recurso por não ter se adaptado e nesse momento está aprendendo a língua de
sinais com a professora da turma e com uma instrutora surda que o município
contratou para auxiliar.
Observação
da aula
A Observação ficou um pouco prejudicada porque nesse dia
chovia muito e faltaram muitos alunos, mas a aluna surda estava e foi possível
observá-la realizando suas atividades. Inicialmente ela estava fazendo umas
atividades que não tinha terminado enquanto a professora colava os temas dos
alunos, num caderno que fica na escola.
Observei seus trabalhos, que ela mesma me mostrava, a
professora mencionou que sua pintura havia melhorado muito já que no inicio ela
pintava bem rápido e de qualquer jeito. Foi possível observar que o trabalho realizado
pela professora é pensado sempre pela via da inclusão dessa aluna, já que todo
o trabalho ofertado aos demais alunos é também oferecido a ela de forma
adaptada para a língua de sinais. Isso fica claro nos trabalhos expostos na
sala, os numerais, alfabeto, escrita dos objetos e os cartazes que a professora
utiliza em aula, todos, sem exceção, são produzidos em Libras também.
Nesse dia a professora iria contar a história “Ioiô”,
primeiramente ela mostra todos os personagens e apresenta o sinal, após a
contação, os alunos fariam o livro da história no formato de um ioiô, onde era
possível colar uma cordinha e colorir os desenhos da história. A aluna
demonstrava interesse para fazer a atividade, mas a professora guardou para o
dia seguinte porque tinha poucos alunos naquele dia.
No momento seguinte a aluna foi assistir a um filme que a
outra professora estava passando para outras turmas, devido ao numero pequeno
de alunos naquele dia, mas ela retorna para a sala em seguida, perdendo o
interesse pelo filme, volta para terminar suas atividades. A instrutora faz
umas atividades com ela em que ela deve ligar a letra correspondente ao sinal
(alfabeto datilológico), após pede para ela ir colocando as letras do alfabeto
de acordo com o sinal e solicita que ela mostre do que se trata por meio do
sinal. Assim a menina avança no aprendizado de Libras o que traz grandes
contribuições para sua aprendizagem na escrita, nesse sentido Pereira salienta
que
uma vez adquirida a língua de sinais, esta terá um papel fundamental na
constituição do português que será adquirido como segunda língua, preferencialmente
na modalidade e escrita pelo fato de esta não depender da audição. (PEREIRA.
Apud LODI et al, 2002, p. 49)
Sabemos que esse
ato constitui-se num momento muito importante pela contribuição que traz ao
aluno surdo para o acesso a língua escrita, ou seja, a Língua Portuguesa que
será depois concebida como segunda língua. Assim o aluno adquire o conhecimento
da Libras instrumentaliza-se para a aquisição do sistema escrito. Dessa forma
Possentini afirma que
enfatizamos que a língua de sinais deva ser considerada e desenvolvida
como primeira língua dos surdos e que práticas educacionais para o ensino de
segunda língua, ou língua estrangeira, sejam conhecidas, estudadas e aplicadas
pelos educadores para o ensino do português escrito [...] o acesso a escrita só
será pleno quando ela for tratada e concebida como prática social de linguagem,
cultural, social, histórica e ideologicamente determinada. (POSSENTINI, apud
LODI et al, 2002, p. 44 )
Vale
aqui salientar que tanto o trabalho da professora da turma quanto o trabalho da
instrutora têm como preocupação inicial o aprendizado de Libras sem deixar que
a aluna esteja em contato com materiais escritos e jogos onde pode ter acesso
ao alfabeto. Outra preocupação constante, que foi observada pelos trabalhos que
a professora mostrou, é com o letramento.
Foi
possível observar durante os jogos que a menina utilizou, jogos de sucatas,
confeccionados com tampinhas de garrafas em que era possível jogar de diversas
maneiras, como o jogo da memória e de construção de palavras. As historias que
a professora usou anteriormente e as que ainda iria usar, todas adaptadas para
aluna surda demonstra a preocupação dessa professora com práticas de letramento
num contexto apropriado sabendo a importância dessa prática nas turmas de alfabetização.
Assim, recorro às palavras de Pereira ao dizer que
como todas as crianças, também as surdas necessitam de conhecimento de
mundo de modo que possam recontextualizar o escrito e dai derivar sentido. Esta
é, a meu ver, a maior contribuição da língua de sinais, para a escrita pelos
surdos. É através dela que os alunos surdos poderão atribuir sentido ao que
leem, deixando de ser meros decodificadores da escrita, e é através da
comparação da língua de sinais com o português que irão constituindo o seu
conhecimento de português. (PEREIRA. Apud LODI et al, 2002, p. 49)
Ao
final da aula a professora fez uma atividade com a aluna surda da seguinte
forma: pedia que ela fizesse o sinal das palavras que ela tinha escrito no
inicio da aula, que ela substituía o sinal pela letra e pedia que ela fizesse o
sinal. Observei que tinha nomes de pessoas sugeri que ela fizesse essa
atividade com o nome dos colegas para que a aluna identificasse, a professora
gostou, falou que iria fazer com o auxilio dos crachás que eles têm isso porque
ela tinha comentado que não consegui identificar o nível da
leitura/identificação que a menina está.
Senti
falta de atividades em que a professora usasse a palavra e a escrita, tinha
alguma coisa no canto do quadro, mas os jogos que ela mesma produz poderia
explorar mais essa técnica, mas há que se parabenizar o trabalho e a atitude
acolhedora dessa professora no sentido de incluir essa aluna em todas as atividades
propostas para aquela turma.
Conclusão
Os
debates incluindo a temática da inclusão precisam ser repensados por outra
ótica, a questão não deve estar apenas em ter capacitação para trabalhar com
alunos surdos, ou outra necessidade especial, podendo-se centrar na perspectiva
daquilo que é possível aprender, e sempre é possível aprender mais, aprender
coisas novas.
Quanto
aprendizado há nessa turma, quanta contribuição essa aluna leva para aquelas
pessoas que estão envolvidas na sua aprendizagem. Mas a postura dessa
professora faz toda a diferença, porque aceitou e acolheu essa aluna e se
lançou na busca da aprendizagem, de entender como essa aluna aprende e de
aprender Libras que é essencial.
Claro
que seria bem melhor se a prefeitura disponibilizasse profissional qualificado
para trabalhar nessa turma como orienta a legislação, mas isso, nesse caso não
foi impedimento para que essa aluna encontrasse a oportunidade de aprender.
Referências
LODI,
Ana Cláudia B; HARRISON, Kathryn M. P; CAMPOS, Sandra R. L. de; TESKE Ottmar. Letramento e minorias. Porto Alegre:
Mediação, 2002.
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