sábado, 29 de junho de 2013

O mito da caverna

Introdução

O trabalho desenvolvido, na disciplina de Filosofia da Educação, propõe um questionamento a respeito do perfil do educador e da educação infantil e faz uma relação com o texto de Platão, A Alegoria da Caverna.
Durante o desenvolvimento do trabalho, procurei observar alguns professores da educação infantil, com diversas formações e também fiz alguns questionamentos. Aqui o relato ora toma a forma de crítica, ora de admiração, conforme algumas análises vão sendo narradas.
Sei que o assunto é bastante amplo e exigiria mais tempo para ser estudado, é também muito delicado, pois envolve outras questões como o cuidado, número de crianças, condições de trabalho, porém, tudo que relato tem sido observado diariamente nas escolas de educação infantil e nas falas de outras colegas.

O mito da caverna
Marilena Chauí

Imaginemos uma caverna separada do mundo externo por um alto muro. Entre o muro e o chão da caverna há uma fresta por onde passa um fino feixe de luz exterior, deixando a caverna na obscuridade quase completa. Desde o nascimento, geração após geração, seres humanos encontram-se ali, de costas para a entrada, acorrentados sem poder mover a cabeça nem locomover-se, forçados a olhar somente a parede do fundo, vivendo sem nunca ter visto a luz exterior nem a luz do Sol, sem jamais ter efetivamente visto uns aos outros nem a si mesmos, mas apenas sombras dos outros e de si mesmos porque estão no escuro e imobilizados. Abaixo do muro, do lado de dentro da caverna, há um fogo que ilumina vagamente o interior sombrio e faz com que as coisas que passam do lado de fora sejam projetadas como sombras nas paredes do fundo da caverna. Do lado de fora, pessoas passam conversando e carregando nos ombros figuras ou imagens de homens, mulheres e animais cujas sombras também são projetadas na parede da caverna, como num teatro de fantoches. Os prisioneiros julgam que as sombras de coisas e pessoas, os sons de suas falas e a imagens que transportam nos ombros são as próprias coisas externas, e que os artefatos projetados são seres vivos que se movem e falam.
Os prisioneiros se comunicam, dando nome ás coisas que julgam ver (sem vê-las realmente, pois estão na obscuridade) e imaginam que o que escutam, e que não sabem que são sons vindos de fora, são as vozes das próprias sombras e não dos homens cujas imagens estão projetadas na parede; também imaginam que os sons produzidos pelos artefatos que esses homens carregam nos ombros são vozes de seres reais.
Qual é, pois, a situação dessas pessoas aprisionadas? Tomam sombras por realidade, tanto as sombras por realidade, tanto as sombras das coisas e dos homens exteriores como as sombras dos artefatos fabricados por eles. Essa confusão, porém, não tem como causa a natureza dos prisioneiros e sim as condições adversas em que se encontram. Que aconteceria se fossem libertados dessa condição de miséria?
Um dos prisioneiros, inconformado com a condição em que se encontra, decide abandoná-la. Fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões. De início, move a cabeça, depois o corpo todo; a seguir, avança na direção do muro e o escala. Enfrentando os obstáculos de um caminho íngreme e difícil, sai da caverna. No primeiro instante, fica totalmente cego pela luminosidade do Sol, com a qual seus olhos não estão acostumados. Enche-se de dor por causa dos movimentos que seu corpo realiza pela primeira vez e pelo ofuscamento de seus olhos sob a luz externa, muito mais forte do que o fraco brilho do fogo que havia no interior da caverna. Sente-se dividido entre a incredulidade e o deslumbramento. Incredulidade porque será obrigado a decidir onde se encontra a realidade: no que vê agora ou nas sombras em que sempre viveu. Deslumbramento (literalmente: ferido pela luz) porque seus olhos não conseguem ver com nitidez as coisas iluminadas. Seu primeiro impulso é o de retornar é o de retornar à caverna para livrar-se da dor e do espanto, atraído pela escuridão, que lhe parece mais acolhedora. Além disso, precisa aprender a ver e esse aprendizado é doloroso, fazendo-o desejar a caverna onde tudo lhe é familiar e conhecido.
Sentindo-se sem disposição para regressar à caverna por causa por causa da rudeza do caminho, o prisioneiro permanece no exterior. Aos poucos, habitua-se à luz e começa a ver o mundo. Encanta-se, tem a felicidade de finalmente ver as próprias coisas, descobrindo que estivera prisioneiro a vida toda e que em sua prisão vira apenas sombras. Doravante, desejará ficar longe da caverna para sempre e lutará com todas as suas forças para jamais regressar a ela. No entanto, não pode evitar lastimar a sorte dos outros prisioneiros e, por fim, toma a difícil decisão de regressar ao subterrâneo sombrio para contar aos demais o que viu e convencê-los a se libertarem também.
Que lhe acontece nesse retorno? Os demais prisioneiros zombam dele, não acreditando em suas palavras e, se não conseguem silenciá-lo com suas caçoadas, tentam fazê-lo espancando-o. Se mesmo assim ele teima em afirmar o que viu e os convida a sair da caverna, certamente acabam por matá-lo. Mas, quem sabe, alguns podem ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidir sair da caverna rumo à realidade.
O que é caverna? O mundo de aparência em que vivemos. Que são as sombras projetadas no fundo? As coisas que percebemos. Que são os grilhões e as correntes? Nossos preconceitos e opiniões, nossa crença de que o que estamos percebendo é realidade. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luz do Sol? A luz da verdade. O que é o mundo iluminado pelo sol da verdade? A realidade. Qual o instrumento que liberta o prisioneiro rebelde e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A filosofa.

   O texto A Alegoria Caverna é um texto importantíssimo, pela riqueza de assuntos que podemos abordar e analisarmos. Segundo Chauí, a caverna é o mundo em que vivemos, as sombras são as coisas materiais, o prisioneiro é o filósofo, a luz é a verdade, o mundo exterior é a realidade.
Podemos comparar o texto com os fatos da vida contemporânea, nosso trabalho, nossos estudos entre tantas outras coisas. Vou tentar analisar a temática do texto com o papel do educador. Platão mostra-nos que é uma tarefa muito difícil sair da caverna e depois regressar a ela, o professor nesse processo tem deixado muito a desejar se pensarmos o momento em que retorna para falar sobre o que aprendeu: suas vivências e sua realidade. Falta-lhe demasiadamente o olhar reflexivo, questionador, admirador, o que tem feito com que sua prática se transforme a cada dia num sistema mecânico.
Os alunos passaram a serem vistos apenas como elementos indispensáveis na realização do processo educativo, ou seja, nada além do óbvio, visto que não existe processo nenhum sem sua presença, porém, também não existe processo educativo mais profundo sem que se reflita sobre o que queremos enquanto educador e o que quer nosso educando. O aluno é muito mais do que elementos essências para o processo educativo, ele é o próprio processo, é um ser humano, em toda sua complexidade, cheio de desejos e sonhos. Muitos professores ainda possuem a ideia do transmitir conhecimentos, devo salientar que aqui me refiro à educação infantil, o que de certo forma só torna o caso ainda mais grave, pois são crianças prontas para serem podadas em sua essência.
É claro que nem todos os lugares são assim, mas de modo geral, podemos afirmar que em sua maioria é assim que vem acontecendo. As crianças vão para as escolas aprender que morangos são pintados de vermelho e para assistir aos últimos lançamentos da Disney; nada de novo acontece e muito pouco se cria. O professor está distanciando-se do aluno, desmotivando-o, sai de sua Caverna, para o mundo da realidade, busca seu conhecimento, mas quando volta não consegue soltar os grilhões. O senhor detentor de todo conhecimento não se torna capaz de questionar suas crenças, seus valores. Estaremos assim, formando cidadãos críticos? Será esse o caminho para uma educação de qualidade? Os professores estão fazendo uso de sua formação?
Todos possuem um discurso pronto, mas nem todos o colocam em prática, todos vão falar na importância de conhecer a realidade do aluno, mas o que vemos muitas vezes é uma prática deprimente, que não condiz com sua teoria. Muitos professores querem fazer a diferença, pensam sua prática, estão comprometidos com a educação, disposto a fundamentá-la conforme seus conhecimentos teóricos, no entanto o que deveria ser a regra é exceção.     
Referências

CHAUI, Marilena. Convite a filosofia. São Paulo. Editora: Ática.1999.

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