sábado, 29 de junho de 2013

O que pode uma escola?

O que pode uma escola?

Pensando a filosofia de Deleuze, relacionando com a pergunta – “o que pode um professor?”, questiono sobre o que pode uma escola, não saberia responder com certeza, caso fosse necessário, mas me atreveria dizer que o “coração” de uma escola seria a produção de seres humanos de pensamento livre. Penso que essa pergunta é muito complexa, que traria muitas discussões, estudos e também aprendizado. A escola, esse espaço que percorre entre o maravilhoso e o horrível, pode na verdade tudo, no sentido de acolher e excluir o aluno, promover o aprendizado e condená-lo ao fracasso, proporcionar meios para que o aluno odeie ou se apaixone por ela. Esse seria uma parte do poder exercido pela escola, poder esse que vai além.
Fala-se hoje, baseado na teoria de Foucault, nas relações de poder em todos os campos da sociedade, e que chegaram também à escola. Um poder do tipo disciplinar, que sujeita o indivíduo, submete, e a instituição do ensino torna-se a principal disseminadora desse modelo, produtora de sujeitos capazes. Foucault, diz que “a sociedade disciplinar, a vigilância e a punição produzem corpos dóceis e capazes”, dentro das escolas isso se reflete claramente quando o assunto é indisciplina, pois na verdade esse tema tão polêmico está ligado às relações de poder estabelecidas dentro das escolas.
O que se procura é o aluno que não incomoda, ou como prefiro dizer que desacomoda, espera-se que o sujeito submeta-se, e esse perfil vem mudando a cada dia, a sociedade está em constantes mudanças. Uma fala comum dentro das escolas é que os valores foram perdidos, Nietzsche vai nos mostrar a questão dos valores sobre outra ótica, onde ela questiona o valor dos valores fazendo uma crítica a esse modelo que ainda hoje tenta impor suas verdades. Poderíamos pensar esses valores, questioná-los, pois estão prontos, à espera que o aluno se adapte a eles, ficando de fora da construção dos valores. Para Nietzsche, os valores não se encontram prontos, cabendo ao homem compreender-se como criador de valores, propondo constituir um sujeito crítico. É preciso refletir e reavaliarmos nosso conjunto de valores, a filosofia de Nietzsche, faz uma crítica ao fazer pedagógico e propõe que não se aceite simplesmente o que nos é dado como verdades, mas que passemos a questioná-los.
Nesse sentido poderíamos questionar a respeito de quais estilos de vida estamos criando, dentro de uma sociedade que tem por princípios vigiar e punir, formar corpos dóceis, produzir sujeitos submissos. Foucault questiona as filosofias do sujeito, que pressupõem o homem como uma essência pensante, diz que o sujeito é constituído não constituinte, diz ainda que o sujeito é constituído por práticas disciplinares, das quais surge todo o tipo de saber, organizado em torno da norma o que possibilita controlar o indivíduo. O poder do tipo disciplinar sujeita o indivíduo ao mesmo tempo em que o objetiva, que resulta num tipo de saber que serve para examinar a conduta, qualificar, corrigir, induzir à normalidade, à sanidade. Com todas as lutas da educação, a busca pela liberdade, pela novidade, esse ainda é um modelo encontrado frequentemente em nossa realidade educacional. A escola tem demorado a ver o sujeito como criador de seu conhecimento, Deleuze diz que sem criação não há aprendizagem, - estamos possibilitando que o aluno use todo seu potencial criador dentro das escolas? – A escola e os professores continuam amarrados aos conteúdos que precisam seguir, não possibilitando espaço para o novo, para a vontade do aluno, mantendo a ordem dos fatos, uma hierarquia. Deleuze pensa o saber com a ideia de rizoma, a expansão e diversificação das multiplicidades, sem começo e sem fim, apenas meios “pelos quais cresce e transborda”, sem rupturas, onde o saber se conecta, sem hierarquizar.
 O filósofo preocupou-se com o pensar e com o que o fortalece não com o que o debilita, com o que liberta, expande o desejo, o que preserva a diferença, afirma o positivo sobre o negativo. Com o que nos afeta e com os bons encontros que temos. Essa poderia ser uma prática comum dentro das escolas com bons resultados. Afirmar o positivo sobre o negativo, se deixar afetar pelos bons encontros construindo saberes a partir desses encontros.

Não me parece difícil fazer uso dessas teorias para melhor pensar nosso cotidiano em sala, repensar nossas práticas, olhar menos para as faltas e preocupar-nos mais com as questões de aprendizagem. Pensar em Nietzsche para questionar os valores dados, Foucault para pensar questões como indisciplina e falta de limites e Deleuze para pensar a liberdade de pensar e de criar; criar novos conceitos em educação, novos conceitos em valores, moral e ética.

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